sábado, 17 de julho de 2010

Responsabilidade, Liberdade e Moral no existencialismo

A responsabilidade, de acordo com as obras de Sartre, decorre da obtenção da liberdade do indivíduo, pois a partir daí pode mudar sua vida e fazer escolhas. É verdade que somos privados de muitas liberdades e, como Sartre disse, não conhecemos a verdadeira liberdade, pois a que conhecemos é uma liberdade alienada. De acordo com ele a liberdade verdadeira irá surgir somente quando a filosofia marxista explodir, se realizar. Mas mesmo assim, não somos nunca privados de escolher, podemos tomar como um exemplo Stephen Hawking, que sofre de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), perdeu todos os seus movimentos, mas mesmo assim ainda escolhe, ainda assim escreve livros e realiza estudos importantes. Deixando um pouco de lado a questão da verdadeira liberdade que não podemos desfrutar, a liberdade que temos nos causa angústia, nos amedontra diante de toda a responsabilidade que temos que assumir ao tomar uma decisão. Ao escolher, não escolhemos somente o nosso futuro, não nos responsabilizamos somente pelo que vai acontecer a nós, nos responsabilizamos por nós e pelos outros, por toda a humanidade. Essa responsabilidade sartreana, que nos põe diante do mundo, que culpa-nos pela situação histórica que vivemos, é a filosofia da ação em si. Não há como nos depararmos com tamanho peso em nossos ombros e não fazermos nada, pois esse peso que carregamos é o pesar da liberdade, é a própria liberdade.
É possível fugir dessa responsabilidade por toda a humanidade negando a nossa liberdade ao dizer que optamos por algo devido aos costumes, às leis e à moralidade ou a uma religião que nos "controla". Mas a verdade é que estaríamos mentindo para nós mesmos. "Escolher ser isto ou aquilo é afirmar, concomitantemente, o valor do que estamos escolhendo ..."(Sartre). É a nossa consciência que dá valor as coisas, que em si não tem valor nenhum. De acordo com Sartre isso é agir de "má-fé" (mauvaise foi no original). Logo, agir de má-fé é, para ele, esquivar-se da responsabilidade pelos próprios atos, depositando-a em alguma influência externa, podendo ser um deus, a lei ou a moralidade. Não existe algo como uma única moral ou ética para o existencialismo satriano. Cada momento e cada situação cria caminhos para serem escolhidos e para cada escolha é inventado um novo homem e uma nova moral.
Isso não significa que não exista uma moral e nada esteja errado. A responsabilidade antes dita leva a um homem responsável por uma escolha realizada, mas não apenas para ele, não só atráves da subjetividade dele, mas através de uma intersubjetividade que leva em conta a liberdade do outro, de toda humanidade e o seu compromisso com a situação. Por isso, não é importante que a moral seja fixa e absoluta, o que importa é que ela seja uma moral de compromisso, de responsabilidade, com a qual as escolhas são feitas em função da liberdade humana.
Outro ponto importante é a sua citação de que "todas as atividades humanas são equivalentes (...) Assim, vem dar no mesmo uma pessoa se embebedar sozinha ou liderar nações." É claro que as críticas seriam extremamente agressivas em relação a essa afirmação, mas ela está justificada pelo fato de que na filosofia de Sartre as pessoas escolhem realizar um ato melhor do que o outro por sua própria escolha; ou seja, ao agirmos, a nossa ação implica toda uma nova moralidade, quer gostemos ou não disso. Desse modo, somos responsáveis por toda uma ética, somos nós quem fazemos com que "liderar nações" seja melhor do que "se embebedar sozinho", nos mostrando que, ao nos conscientizarmos dos nossos atos, nos tornamos responsáveis por eles. Para o filósofo é isso que importa, ter consciência, pois, para ele, isso já bastaria para fazer pensar.
Em suma, da liberdade decorre o homem tal como é e toda a humanidade e história tal como se encontra, decorrendo também a responsabilidade do homem para com a humanidade. Responsabilidade que por sua vez leva à angústia e à criação de uma moral diferente para cada situação, mas que leva em conta a sua liberdade, a liberdade de todos os outros e o compromisso com a situação.

"O primeiro efeito do existencialismo é que ele coloca todo homem na posse de si mesmo tal como é e põe toda a responsabilidade por sua existência nos seus próprios ombros."

- Jean Paul Sartre

(Texto editado em 10/09)

Um comentário:

  1. gosto de quem gosta, lê e escreve sobre filosofia porque, de verdade, um texto simples já me deixa confusa e com dor-de-cabeça. em geral, gosto de gente superior a mim e olha, sou muito inferior à isso ai, tenho que confessar
    o mais impressionante é perceber que tem, afinal, algum jovem interessado nisso. te admiro!

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