segunda-feira, 14 de junho de 2010

A dor

A dor, o sofrimento, é com certeza algo que ninguém quer sentir e, talvez, por isso seja um assunto importante. Por que fugir dela? Pergunta estranha, mas será que carece de sentido?
Primeiramente, o sofrimento, a dor se afirma, é intensa, como dizia Schopenhauer: "Sentimos a dor, mas não a ausência da dor", ausência essa que seria a felicidade, o prazer. E, para comprovar que o desgosto é superior ao prazer, comparemos, como propõe Schopenhauer, a sensação de um animal que devora o outro com a sensação do que é devorado.
Outro ponto importante é que a dor é invevitável, como diriam os budistas, pois "Quem deseja, sofre; quem vive, deseja; a vida é dor." e podemos ainda, com uma visão pessimista, alegar que "A vida é uma história da dor, que se resume assim: sem motivo queremos sofrer e lutar sempre(...)" (Ambas as frases são de Schopenhauer).
Com dessas ideias em mente, devemos considerar também a afirmação de Nietzsche de que devemos basear nossos valores naquilo que se afirma, não naquilo que depende do outro para se afirmar, o que nos levaria a aceitar a dor, e não fugir dela como fazemos. Talvez soe extremamente pessimista tudo que foi dito até agora, mas será que realmente é pessimista aceitar a vida como ela é ao invés de procurar refúgio da realidade, de rejeitá-la? (Não é um incentivo ao conformismo, mas sim à aceitação da dor) Será que não é mais pessimista fugir da realidade? Não é mais pessimista fugir de sua própria vida, ignorá-la - pois a vida é dor e não queremos sofrer -, não querer vivenciá-la, não aproveitá-la e esperar apenas pelo momento em que somos mandados para um mundo divino aonde tudo é perfeito, reduzindo a vida a um nada ridículo? Bom, ao menos eu acho mais otimista viver e aceitar a vida como é do que reduzi-la ao nada.
Com isso vem a pergunta: Se não posso rejeitá-la, o que fazer com a dor então? Uma pergunta sem uma resposta única. Mas isso não impede de fazermos algo com ela ou de mostrar que se pode fazer algo dela e com ela. Georg Simmel, conhecido sociólogo alemão, disse "(...) a elevação essencial de nosso ser se efetua por meio da dor(...)", e certamente Nietzsche não discordaria do sociólogo alemão. Pense em todos os grandes poemas nascidos da dor, em todas as grandes obras de arte, nas grandes obras literárias e filosóficas que surgiram da dor de seu autor. A dor nos traz perguntas existencialistas, nos traz dúvidas e respostas, nos transforma, e por fim, se tivermos uma psique normal, nos eleva.
Por último, devemos agradecer pela existência da dor, que permite a existência do prazer, da felicidade e que enaltece a nossa alegria e os nossos bons momentos. (Não pretendo tornar ninguém masoquista com essas propostas, mas somente mostrar que a dor é a vida, é um sentimento, e que dela há de vir algo bom, só depende de nós fazermos algo dela.)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A esperança

A esperança é a última que morre, dizem por aí sem saber a estória por trás disso. Pesquisando um pouco sobre mitologia grega, podemos encontrar vários contos diferentes que originaram a frase, mas todos com a mesma essência. Narro apenas um para não lhe adiar muito a questão principal.
Prometeu e Epimeteu foram encarregados de criar os animais e a raça humana. Epimeteu, primeiramente, atribuiu características aos animais para que esses pudessem sobreviver, mas ao chegar o momento de criar os humanos carecia de caractéristicas para fazê-los superiores às outras raças. Devido a isso, pediu ajuda ao seu irmão Prometeu, que roubou o fogo dos deuses e deu-o aos homens, concedendo-lhes a superioridade aos outros animais. Zeus prendeu Prometeu numa montanha na qual uma águia gigante comia-lhe as vísceras, que eram regeneradas todas as noites, por trinta mil anos. Antes disso, Zeus havia deixado com Epimeteu uma caixa com todos os males e pediu para que cuidasse dela, pois causaria desgraça aos homens se aberta. De acordo com o pedido de Zeus, botou-a entre duas gralhas no fundo de sua caverna, que o avisariam caso alguém se aproximasse. Em seguida, desconsiderando a advertência de Prometeu quanto aos presentes de Zeus, casou-se com Pandora, que fora oferecida por Zeus. Pandora foi a primeira mulher na Terra, criada por vários deuses do olimpo em conjunto. A consequência disso foi que Pandora conseguiu seduzir Epimeteu para que esse tirasse as gralhas da caverna e, após terem feito amor, com Epimeteu adormecido, Pandora abriu a caixa que espalhou todos os males de forma tão assutadora que a fez fechá-la rapidamente, deixando a esperança em seu interior. Os males são todos que podemos constatar durante toda a história como a mentira, guerras, morte, inveja, loucura. Daí veio a ideia de que a esperança é a última que morre.
Será a esperança realmente boa? Em algumas versões dessa história a esperança é um mal, noutras é o único bem, mas consideram a paixão também algo ruim. Apoiando essas versões, a esperança, nada mais é que um artifício para nos conformarmos com o que não deu certo, com o que não está certo para nós. Será que realmente vale a pena nos dar ao luxo de ter esperanças? "A esperança nos faz esperar" e, conseqüentemente, nos conformar com o que não está certo ao ter a esperança de que tudo ficará OK. Mas a verdade é que nada ficará na sua devida ordem se você simplesmente sentar e esperar, pois é o homem quem faz o seu próprio destino e é responsável pelo seu período histórico. Em Pensamentos, de Pascal, lê-se :"Assim nunca vivemos, esperamos viver; e, dispondo-nos sempre a ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos" . E ainda ousa mais, nos dá como solução o desespero, a desesperança, a não esperança, nos diz que a felicidade não está na esperança, está no conhecer, no amar, no desejar, no realizar de algo. Seria a esperança conformista? Talvez não, pois com ela se fez as maiores revoluções que a história já vi. Mas a charada já fora matada há 200 anos por Schopenhauer... (De maneira alguma o que eu disse é uma desculpa pra você ser intolerante, a intolerância já foi ultrapassada desde Locke.)

"É mais seguro confiar no medo do que na esperança".
-Schopenhauer


Vamos nos dar esperanças e deixar tudo como está? Ou vamos sair na rua para protestar?