sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Marx: Introdução

Desviei um pouco o curso das postagens por ter antecipado Proudhoun após já ter explicado (Na postagem sobre os Jovens Hegelianos) parte do contexto filosófico em que Marx se encontra, então hei de por-me em ordem agora.
Karl Marx seguira de certa forma a reinterpretação de Hegel como um filósofo do homem, e não do Espírito, do mesmo modo que Bauer e Feuerbach faziam. Porém, a partir da publicação de "A Questão Judaica" (1843), começou a enfatizar a questão material e econômica . Esse ensaio foi uma resposta ao modo como Bauer havia tratado a questão dos direitos civis e políticos para judeus, de modo que Marx discorda dele ao alegar que não é o sabá que devemos considerar, mas o cotidiano judeu. Nesse texto ele diagnostica o judeu como uma manifestação do que ele chama de "judaísmo na sociedade civil"; em outras palavras, a dominância dos interesses financeiros na sociedade em geral. Ao fazer isso, não é posta como causa da alienação da humanidade a religião, mas sim, o dinheiro. Karl sugere então que seria necessário uma reorganização da sociedade de modo a abolir as relações comerciais. Logo, ao dizer que "O dinheiro é o valor universal e autoconstitutivo de todas as coisas. Assim, ele privou o mundo todo, o mundo humano e também a natureza, de seu valor próprio. O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da vida do homem, e essa essência alienada o domina quando ele a cultua", Marx revela, de certa forma, o rumo para a liberdade humana.

O Proletariado entra em cena

Em "Introdução à crítica da Filosofia do Direito de Hegel", encontra-se a primeira vez em que Marx chega a conclusão de que só crítica não é o suficiente: "A arma da crítica evidentemente não pode substituir a crítica das armas. A força material tem de ser destruída pela força material. Contudo, a teoria também se torna uma força material uma vez que tenha atingido as massas". Com isso, ele deduz que é necessario de "uma classe com grilhões radicais (...), de uma esfera da sociedade com um caráter universal em virtude de seu sofrimento universal (...), uma esfera, em suma, que é a perda completa de humanidade e que só pode se emancipar por meio da emancipação completa da humanidade. Esta dissolução da sociedade como uma classe particular é o proletariado". Devido a isso: "A filosofia não pode ser realizada sem a superação do proletariado, o proletariado não pode ser superado sem a realização da filosofia". Por realização da filosofia entende-se a realização do processo dialético da humanidade, o qual foi ilustrado por Hegel em sua "Fenomenologia do Espírito". Marx também afirma que a classe média proprietária consegue obter liberdade para si com base nos direitos de propriedade, excluindo assim os outros da liberdade que conquistam, e, consequentemente, privando a classe trabalhadora, que possui somente seu título de seres humanos, da liberdade. Em decorrência de tudo isso, os proletariados só podem se libertar libertando consigo toda a humanidade. Resumindo, devido ao caráter universal da alienação humana, sua resolução tem de ser também por algo de caráter universal, e o proletariado tem essa universalidade devido à sua total privação, se tornando a resolução do problema da não-liberdade e da autoalienação humana no capitalismo. O proletariado não representa somente a classe trabalhadora para Marx, ele representa toda a humanidade.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A propriedade é um roubo!

"Se eu tivesse de responder à seguinte questão: o que é a escravidão?, e a respondesse numa única palavra: é um assassinato, meu pensamento seria logo compreendio. Eu não teria necessidade de um longo discurso para mostrar que o poder de tirar ao homem o pensamento, a vontade, a personalidade é um poder de vida e de morte, e que fazer um homem escravo é assassiná-lo. Por que então a esta outra pergunta: o que é a propriedade?, não posso eu responder da mesma maneira: é um roubo, sem ter certeza de não ser entendido, embora esta segunda proposição não seja senão a primeira transformada?"
E assim se inicia "A Propriedade é um Roubo" de Pierre Joseph Proudhon, um dos grandes expoentes da economia política socialista e do anarquismo. Vou tentar, ao longo dessa postagem, demonstrar os pontos importantes que ele trata nesse texto.
Antes de começar a falar de propriedade, é importante ressaltar que Joseph lutava pela liberdade do homem, pela fim da opressão e, como todo homem de visão ampla, pelo fim da exploração do homem pelo homem. Porém, a anarquia que ele defende não é, como muitos pensam, uma total desorganização, mas sim uma "perfeita" organização. Proudhon foca a questão da organização da anarquia gerada pela liberdade, sendo esta essencialmente organizadora para ele, pois "para assegurar a igualdade entre os homens, o equilíbrio entre as nações, é preciso que a agricultura e a indústria, os centros de instrução de comério e de armazenamento sejam distribuídos segundo as condições geográficas e climáticas de cada país, a espécie de produtos, o caráter e os talentos naturais dos habitantes etc., em proporções tão justas, tão sábias, tão bem combinadas, que lugar algum apresente nem excesso nem ausência da população, de consumo e de produto. Aí começa a ciência do direito público e do direito privado, a verdadeira economia política", afirma ele. Desse modo, pode-se compreender melhor sua posição anarquista ao alegar que "A política é a ciência de liberdade: o governo do homem pelo homem, sob qualquer nome que se disfarce, é opressão; a mais alta perfeição da sociedade se encontra na união da ordem e da anarquia" .
Agora, voltando para o assunto principal, para justificar que a propriedade é um roubo, Joseph usa o conceito da mais-valia de Marx. Assim, ele demonstra que, por meio da propriedade e explorando os proletariados, os capitalistas (Ou proprietários dos meios de produção) obtêm seu lucro, ou seja, por ter a propriedade e os meios de produção, o capitalista paga somente uma parcela do que o que o trabalhador produz, sendo a diferença entre o que o último produz pelo que o primeiro o paga o lucro do capitalista. Assim, a propriedade privada e os meios de produção fazem que o capitalista seja um ladrão e, portanto, a propriedade é roubo. Porém, ela é também impossível e homicida, já que "a propriedade, após despojar o trabalhador pela usura, assassina-o lentamente pelo esgotamento; ora, sem a espoliação e o assassinato a propriedade não é nada; com a espoliação e o assassinato ela logo perece, desamparada: logo, é impossível".
Para finalizar, deixo aqui algumas palavras dessa obra do Prodhoun :
"Jovem, que a corrupção do século indigna e que o zelo da justiça devora, se a pátria vos é querida, e se o interesse da humanidade vos toca, ousai abraçar a causa da liberdade. Renunciai a vosso velho egoísmo, mergulhai na onda popular da igualdade nascente; lá, vossa alma revigorada retirará uma seiva e um vigor desconhecidos: vosso espírito debilitado reencontrará uma indomável energia; vosso coração, talvez já enfraquecido, rejuvenescerá."

"Em meus primeiros relatórios, atacando de frente a ordem estabelecida, eu dizia, por exemplo, a propriedade é um roubo! Tratava-se de protestar, de, por assim dizer, colocar em relevo a fragilidade de nossas instituições."
- Proudhoun